sábado, 7 de março de 2009

Fundos de ações: Como recuperar-se do prejuízo

Fundos de ações: Como recuperar-se do prejuízo


Até 2008, muitos investidores arriscaram seu suado dinheirinho em fundos de ações. Hoje, amargam perdas de até 50% do valor investido. Curioso é que poucos deles pensam em sacar o saldo que ainda lhes resta. Dizem que assim assumiriam o prejuízo e preferem, então, manter a aplicação a espera de um valorização no longo prazo. Má notícia: se o dinheiro estiver em fundos de uma única empresa, como os fundos Vale ou Petrobras oferecidos pelos bancos, será mais difícil recuperar o valor perdido.
Algumas pessoas acreditam que os fundos de ações são mais seguros que as ações propriamente ditas. Estão enganadas! Os fundos de ações Vale ou Petrobrás têm o mesmo risco que as ações dessas empresas. Além disso, os fundos têm outras desvantagens, como:

1. Cotização no escuro (em D+1 para depósitos e saques)
2. Cobrança de taxa de administração
3. Menor liquidez (em D+4)
4. Cobrança de Imposto de Renda
5. Cobrança de IOF regressivo

Se você é um iniciante em investimentos, provavelmente não entendeu muito bem os pontos citados acima. Não se preocupe! A maioria das pessoas que investe em fundos de ações também não está ciente dessas desvantagens. Entre outras razões, elas aplicam nesses tipos de fundos por desconhecerem as opções de operação diretamente com corretoras, conhecidas como “homebroker”, ou, simplesmente, pela facilidade oferecida pelos bancos em se começar a investir. Afinal, basta apenas um clique, não é mesmo? Portanto, cuidado! O custo dessa prática é alto, proporciona rendimento menor e assim dificulta a recuperação de suas perdas. Para ilustrar, considere o exemplo a seguir:

Investindo diretamente em ações
Em 04/02/2009, compro 100 ações da Petrobras (PETR4), ao preço de R$25,70 cada e invisto R$2.570,00. Considere que o custo da operação seja de R$16,00, o que chamaremos de corretagem. O investimento inicial será então de R$2.570,00 + R$16,00 = R$2.586,00.
Aproximadamente um mês depois, em 04/03/2009, decido vender todas as 100 ações. A cotação de fechamento dos papéis na data é de R$26,37 cada. Receberia um total de R$2.637,00, dos quais serão deduzidos os custos com corretagem, também de R$16,00 na venda. O resultado é em um saldo final de R$2.637,00 - R$16,00 = R$2.621,00. Note que esse já é meu saldo líquido. Não foi cobrado Imposto de Renda, uma vez que movimentações com ações de até R$20.000,00 em um mês são isentas de IR. Também não foi paga custódia, taxa que as corretoras cobram mensalmente para manter os papéis do investidor, uma vez que algumas delas oferecem esse serviço de graça.
O ganho com a operação foi de R$35,00 e o rendimento de 1,35% ao mês. Todo o dinheiro, R$2.621,00 estaria disponível na minha conta em D+3, em 09/03/2009, três dias úteis após a venda.

Investindo no fundo de ações Petrobras oferecido pelos bancos
O raciocínio é similar ao utilizado acima, porém, no caso do fundo, não sei no ato quantas ações comprarei (1), nem mesmo qual será o preço de compra das mesmas. Consideremos o mesmo investimento inicial, de R$2.586,00 em 04/02/2009. O meu dinheiro só será transformado em ações, que, no caso dos fundos, são chamadas de quotas, no final do dia seguinte, ao preço de fechamento das mesmas em 05/02/2009, que foi de R$26,00 cada. Note que já saí perdendo, pois só consegui comprar R$2.586,00 / R$26,00 = 99,46 ações. Parece irrisória, mas essa diferença pode ser muito maior, uma vez que invisto às cegas.
Aproximadamente um mês depois, em 04/03/2009, decido sacar o dinheiro do fundo. Novamente, o valor a receber será calculado pelo preço das ações no fechamento do mercado em D+1, ou seja, em 05/03/2006. Coincidentemente, o preço das ações da Petrobrás na data foi de R$26,00 cada. Receberia os mesmos R$2.586, resultantes do produto das 99,46 ações pelo seu preço unitário de R$26,00. Excelente! - pensaria o leitor mais afoito – Não é cobrada taxa de corretagem. Afirmação correta, porém precipitada. Os bancos costumam cobrar taxas de administração (2) de até 5% sobre o valor total do investimento. Devo ser redundante e enfatizar que a taxa é cobrada sobre o valor total que tenho depositado no fundo e não sobre os rendimentos. É aí que está a dificuldade em recuperar-se as perdas! No exemplo, seriam debitados da minha conta, em média, R$0,36 ao dia, que totalizariam R$10,06 em um mês. O saldo final da aplicação é de R$2.586 - R$10,06 = R$2.575,94.
Resumindo, a mesma operação em fundos deu um “ganho” de -R$10,06 e rendimento de -0,39% ao mês, ou seja, tive prejuízo! Além disso, o dinheiro só estará disponível na minha conta em D+4, em 10/03/2009, quatro dias úteis após a venda (3), um dia depois da operação com ações.

Vale citar que as cotações utilizadas (4) em ambos os exemplos são reais e os rendimentos apurados seriam exatamente os mesmos na prática, de +1,35% ao mês, aplicando em ações PETR4, e de -0,39% ao mês, investindo em fundos de ações, o que resulta em uma diferença de R$45,06 a favor das ações. Perceba que a cotação de compra e venda no fundo é a mesma. Agora imagine que, após um ano, ao invés de um mês, o valor da ação continue igual ao preço de compra. Com a taxa de administração de 5%, eu pagaria ao banco 365 dias x R$0,36 = R$131,10, ao invés de R$10,06. Meu saldo final seria, então, de R$2.586 - R$131,10 = R$2.454,90. Na corretora, meu saldo final seria de 100 ações x R$26,00 – R$16 de corretagem = R$2.584,00. Note que os fundos já perdem para as ações por R$2.584,00 - R$2.454,90 = R$129,10.

Conclusão, devido à cobrança da taxa de administração, a perda nos fundos agrava-se à medida que o tempo passa, enquanto, na corretora, o custo é fixo. Quanto mais tempo você ficar nos fundos, mais demorará para recuperar o que perdeu. Portanto, mude o quanto antes. Para investir em ações, basta fazer seu cadastro em uma corretora. Mas fique atento! Algumas delas cobram para custodiar suas ações. Dê preferência àquelas cuja taxa de custódia é zero. Verifique também o valor das taxas de corretagens. Enquanto algumas cobram um percentual de 0,5% a 2% do valor investido, outras cobram valores fixos, que podem chegar a apenas R$5,00 por negociação.

Vale lembrar que nem todos os fundos de ações são ruins. Aqueles compostos por diversas ações podem apresentar boa rentabilidade. Mas lembre-se: a taxa de administração pode reduzir significantemente os ganhos. Esteja atento também para a cobrança de taxa de performance. Alguns fundos cobram um percentual quando atingem rendimentos acima de referencial combinado, como, por exemplo, 20% dos ganhos obtidos acima do índice Bovespa. Faça suas contas e fique de olho no dinheiro!



Considerações importantes:
(1) Desvantagem citada número 1, chamada de cotização no escuro ou cotização às cegas
(2) Desvantagem citada número 2
(3) Desvantagem citada número 3
(4) Fonte das cotações utilizadas: site Infomoney (
www.infomoney.com.br)